Quem é Dom Jaime Spengler, cardeal brasileiro nomeado pelo Papa Francisco
08/12/2024
Arcebispo de Porto Alegre e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) é natural de Gaspar (SC). Religioso de 64 anos poderá participar de eventual conclave, a eleição de um novo papa. Papa Francisco nomeia cardeal arcebispo de Porto Alegre e presidente da CNBB, Dom Jaime Spengler
O Papa Francisco nomeou, neste sábado (7), 21 novos cardeais no Vaticano. Entre eles, está o brasileiro Dom Jaime Spengler, arcebispo metropolitano de Porto Alegre e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
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O religioso de 64 anos é natural de Gaspar (SC). Ordenado padre em 1990, o novo cardeal se junta a outros sete cardeais brasileiros.
Em entrevista ao jornalista Léo Saballa Jr., da RBS TV, no programa "Conversas Cruzadas", de GZH, Dom Jaime disse ter se surpreendido com a indicação ao cardinalato, em 6 de outubro. O então bispo descobriu sobre o anúncio do Papa por meio de amigos, via WhatsApp.
"Eu estava no meu quarto, tinha terminado de ler um livro, praticamente próximo ao meio-dia, liguei o computador para ver o que tinha de notícias na internet, etc. E, de repente, o WhatsApp começou a disparar: 'parabéns', 'coragem', 'vai em frente' e por aí adiante. Eu disse: 'mas hoje não é uma data significativa na minha história pessoal, não estou de aniversário, não estou celebrando nada'. 'Não, você não viu? O Papa citou seu nome na Praça de São Pedro agora, está falando'", disse Dom Jaime.
Confira mais abaixo, nesta reportagem, um perfil do novo cardeal, a possibilidade de participação – e talvez de uma eleição – em um conclave (a escolha de um novo papa), além dos pensamentos de Dom Jaime sobre temas polêmicos, como a participação de jovens, mulheres e pessoas LGBTQIA+ na Igreja Católica, além do celibato.
Dom Jaime recebendo o tradicional chapeu de quatro pontas do Papa Francisco neste sábado (7)
Reprodução/Vatican news
Na cerimônia de sábado (7), o Papa Francisco disse aos novos cardeais que a missão deles é a construção da unidade e que não cedam à "competição corrosiva", nem se deslumbrem com prestígio, poder e aparência. O religioso brasileiro se encontrou com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) em Roma.
Em entrevista exclusiva ao Jornal Nacional, Dom Jaime se emocionou ao lembrar das enchentes no Rio Grande do Sul. A tragédia deixou 183 mortos e 27 desaparecidos. Na época, o Vaticano doou quase meio milhão de reais ao estado.
"O que nós vivemos no Rio Grande do Sul no mês de maio foi uma tragédia, uma tragédia que requer responsabilidade política e social. Mas, se por um lado a tragédia trouxe destruição e morte, proporcionou uma onda, eu diria, de solidariedade como nós nunca vimos no Brasil", disse.
Neste domingo (8), Dom Jaime participa da celebração eucarística com os outros cardeais. O cardeal deve voltar a Porto Alegre e ser recebido na Catedral Metropolitana no dia 17 de dezembro, em uma cerimônia marcada para as 10h.
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Dom Jaime Spengler
Jaison Alves/CNBB Sul 4
Quem é Dom Jaime Spengler
Jaime Spengler nasceu em 6 de setembro de 1960, na cidade de Gaspar, no Vale do Itajaí, em Santa Catarina. Ele foi o primeiro dos quatro filhos de Genésio Bernardo e Léa Maria Spengler.
O religioso ingressou, como noviço, na Ordem dos Frades Menores de Rodeio (SC) em 1982. A ordenação do catarinense como padre ocorreu no dia 17 de novembro de 1990, também em Gaspar.
Na carreira acadêmica, Spengler cursou filosofia, no Paraná, e teologia, no Rio de Janeiro e em Jerusalém. O então padre fez doutorado em filosofia em Roma. Como sacerdote, Jaime atuou em diversas cidades do Brasil até 2010.
Dom Jaime Spengler
Província Franciscana da Imaculada Conceição/Divulgação
Em 2010, foi nomeado bispo auxiliar de Porto Alegre pelo então Papa Bento XVI. Um ano depois, foi ordenado bispo em sua cidade natal, Gaspar.
Dom Jaime foi nomeado arcebispo metropolitano de Porto Alegre em 2013, onde vive desde então. O posto foi alcançado após a renúncia de Dom Dadeus Grings, hoje bispo emérito da capital gaúcha. À frente da Cúria, Spengler comanda 158 paróquias da Região Metropolitana.
"Nosso desejo é ir ao encontro das pessoas levando o que nós temos: Jesus. Temos Jesus e seu evangelho", disse, ao tomar posse, em 2013.
Catedral Metropolitana de Porto Alegre
Mateus Bruxel/Agencia RBS
Em 2023, o arcebispo foi eleito presidente da CNBB. A eleição foi realizada durante a 60ª Assembleia Geral da instituição, que reúne bispos católicos do país, em Aparecida do Norte (SP). Dom Jaime estará à frente da entidade até 2027. O religioso também preside o Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam).
"São serviços que somos chamados a desempenhar e tentamos colaborar aonde somos chamados de acordo também com as nossas possibilidades. Não somos super-homens", disse.
Se definindo como um "cataúcho", uma mistura de catarinense e gaúcho, Dom Jaime é torcedor do Internacional.
Dom Jaime Spengles, acebispo de Porto Alegre, ganha camiseta do Internacional
Ronaldo Bernardi/Agência RBS
Participação em eventual conclave
Como a regra da Igreja Católica estabelece que cardeais com menos de 80 anos têm direito a voto em um eventual conclave, Dom Jaime poderá participar da eleição de um novo papa, se ela ocorrer nos próximos 16 anos.
Tudo isso depende do futuro do Papa Francisco. A eleição de um novo pontífice ocorrerá apenas no caso da morte do argentino nesse período ou caso ele renuncie, como fez Bento XVI.
"Eu espero até nem precisar participar desse momento até lá, já ter completado os meus 80 anos também. O Papa, em si, está muito bem de saúde. É verdade, com uma dificuldade de caminhar, sim, ele tem um problema no joelho que limita a movimentação, mas ele mesmo diz que governa com a cabeça e não com as pernas. Então, a gente faz votos e espero que ele possa continuar no exercício do Ministério por muitos e muitos anos", afirmou Dom Jaime, no "Conversas Cruzadas".
13 de março de 2013 - Fumaça branca sai da Capela Sistina no segundo dia de conclave
Tony Gentile/Reuters
Possibilidade de ser papa
Questionado pelo jornalista Léo Saballa Jr., Dom Jaime Spengler disse não pensar em ocupar o maior cargo da Igreja Católica.
"Eu não quero nem pensar nisso. Até porque eu creio que seja talvez um dos lugares, um dos serviços, em termos universais, mais solitários do mundo", respondeu.
Para Dom Jaime, a figura de um papa "representa a comunhão, a unidade da igreja", além da liderança política mundial.
"Mas ao mesmo tempo eu fico imaginando este homem, na função e no reconhecimento de que goza, ele não pode dizer assim: 'hoje à noite eu gostaria talvez de sair ali na rua para tomar um sorvete'. Acabou. Você não se pertence mais", afirmou.
Dom Jaime recebendo o tradicional chapeu de quatro pontas do Papa Francisco neste sábado (7)
Gregorio Borgia/AP
Temas polêmicos
Durante a entrevista ao "Conversas Cruzadas", Dom Jaime Spengler respondeu sobre temas polêmicos para a Igreja Católica.
Questionado sobre o celibato e o casamento de padres, Dom Jaime disse que o debate precisa ser feito dentro da Igreja Católica. Em Porto Alegre, ele promoveu homens casados ao cargo de diáconos, posição anterior à dos padres.
"Eu creio e defendo esta ideia de que nós precisamos avançar, ao menos no debate em torno da questão. Eu não sei se a suspensão do princípio do celibato é o melhor caminho, há expressões inclusive de outras igrejas que optaram por esse caminho e dizem: 'olha, é melhor não ir por essa estrada'. Mas eu creio que aqui nós não podemos ficar em opiniões, precisamos sim aprofundar o debate e eu creio que, no momento certo, o Espírito mesmo há de mostrar qual o melhor caminho para a igreja", avaliou.
A participação de mulheres no diaconato também foi abordada pelo novo cardeal. O Papa Francisco criou um grupo de estudo para analisar a questão.
"Existem dados históricos que, no início do cristianismo, teria havido uma espécie de ministério diaconal exercido por mulheres. No entanto, isso, historicamente, ainda não está suficientemente claro. Esse é um elemento. Segundo elemento. Nós, desde 2020 e 2021, iniciamos um processo de escuta de comunidades do mundo inteiro. E, durante esse processo de escuta, veio, sim, fora, uma indicação para avaliar a possibilidade de mulheres serem admitidas ao diaconato", explicou.
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Associated Press
Sobre as pessoas LGBTQIA+, Dom Jaime Spengler afirmam que os integrantes da igreja precisam "escutá-los, escutá-las, acolhê-los e, na medida do possível, integrar na comunidade". Contudo, diferenciou bênçãos dos sacramentos.
"Não podemos comparar uma bênção àquilo que é o sacramento do matrimônio. Nós abençoamos tantas coisas, abençoamos objetos, animais. Se uma pessoa que tem essa tendência me pede uma bênção, por que não? É gente? É pessoa? É filho de Deus? Ou filha de Deus? E por esta condição, merece e talvez precisa, e talvez a bênção pode até ajudar essa pessoa a alargar horizontes, abrir os olhos, se compreender melhor. Por que também não dizer se aceitar melhor? Porque se trata de uma dimensão do humano que, muitíssimas vezes, não foi a pessoa que escolheu. É fruto de um processo natural e isso nem sempre, eu creio, a sociedade compreende suficientemente", disse.
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Sandro Pace/AP
O cardeal Dom Jaime Spengler também falou de ataques de setores conservadores ao Papa Francisco.
"A fé cristã nós vivemos em comunidade, não vivemos isoladamente. Sinto que ele entristece isso. Certamente, entristece de um lado e eu diria também nos envergonha, porque significa que temos, talvez, dificuldade de interagir com a diferença, seja de um lado, seja de outro", opinou o religioso.
Sobre a participação dos jovens na igreja, o novo cardeal afirmou que "um dos grandes desafios, eu creio, da igreja na atualidade é a transmissão da fé às novas gerações".
"Como dialogar com essas novas gerações, eu creio que é realmente uma tarefa hercúlea, um desafio enorme que nós temos, sim, que abordar. É verdade também que a juventude tem sede de espiritualidade, de mística", disse.
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